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Leandro Vilar

quinta-feira, 17 de abril de 2014

A celebração da Páscoa judaica e as tradições culturais: simbologia e significado

A CELEBRAÇÃO DA PÁSCOA JUDAICA E AS TRADIÇÕES CULTURAIS: SIMBOLOGIA E SIGNIFICADO


TOMAZ, Paulo Cesar (PPH/UEM)
PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo (UEM/NEE/UNICAMP)


OBS: Os grifos e as imagens são de minha escolha, e não dos autores. 


A Páscoa Judaica ou Pêssach é uma festa religiosa comemorada pelo povo judeu, evocando a passagem da escravidão no Egito para a condição de liberdade, conforme evento descrito na Torah (Livro Sagrado dos Judeus). Essa festa religiosa é comemorada anualmente pelos judeus em todo o mundo, sendo sua presença também observada por seus descendentes aqui no Brasil através das Sinagogas Judaicas, como a do Centro Israelita do Paraná (CIP) em Curitiba, por exemplo. A festa reúne todos os anos, durante o mês de abril, as famílias e os amigos em torno da mesa de Pêssach, onde se segue um cuidadoso ritual de preparação com orações e uma culinária específica para a ocasião. Tal celebração religiosa faz parte integrante do patrimônio cultural brasileiro, o qual merece ser conhecido e estudado em sua simbologia e significado, embora o governo brasileiro, desde a década de 1930, não tenha priorizado as contribuições dos imigrantes na formação cultural brasileira.

Somente nas últimas décadas do século XX, o conceito de patrimônio cultural se expandiu e passou a incorporar os referenciais culturais dos povos e a percepção dos bens culturais nas dimensões testemunhais do cotidiano e das realizações intangíveis. Nesse sentido, como bem o lembram Pedro Paulo Funari e Sandra Pelegrini a “ampliação do conceito de patrimônio observado no artigo 216, da Constituição Federal Brasileira” (1988), estimulou a criação de ferramentas de proteção dos bens culturais no país:

“(...) o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, implementado pelo Decreto no. 3551/2000. Essa ampliação das frentes de tombamento do patrimônio histórico nacional, manifestas no registro de “bens imateriais notáveis” – como salientou Glauco Campelo, evidenciou a adoção de novas formas de acautelamento por parte do IPHAN e a necessidade da criação do Livro de Registro dos Saberes e do Livro das Formas de Expressão, nos quais são inscritos os “conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades” e armazenadas “as manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas”; e também, do Livro das Celebrações e do Livro dos Lugares, que se ocupam, respectivamente, dos “rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social” e dos espaços onde se “concentram e reproduzem práticas culturais coletivas”, como mercados, feiras, santuários, praças e entre outros1”.

Assim, buscar-se-á apreender os rituais judaicos do ponto de vista do patrimônio cultural no Brasil, inventariando cada fase do Pêssach.

A formação da comunidade Judaica no Paraná

A formação da comunidade Judaica no Paraná é fruto da vinda de várias famílias que imigraram para esse Estado, fato esse observado principalmente entre os anos de 1870 e 1920, em decorrência do grande fenômeno de imigração ocorrido no Brasil nesse período

Em 1913, inúmeras famílias israelitas já moravam em Curitiba e se reuniam para celebrar suas festas religiosas. Dentre elas, destacava-se a festa de Pêssach (Páscoa Judaica), ritual religioso de caráter unificador das tradições deste povo. Naquele período os imigrantes fundaram a União Israelita do Paraná. Sete anos depois a comunidade Israelita organizou o Centro Israelita do Paraná (CIP), sendo esta uma instituição que objetivava manter viva as ricas tradições desse povo residente em Curitiba e região:

“O período de 1920 a 1937 representou a fase propriamente dita da edificação. Neste espaço de tempo, a população judaica cresceu e foram construídos os edifícios de propriedade coletiva: o CIP, a Escola e as construções do Cemitério. Começou-se também na comunidade intensa atividade cultural”.2

As comunidades Judaicas no Brasil sempre buscaram manter suas tradições religiosas, e uma de suas marcas é a comemoração do Pêssach, festa comemorada, segundo o calendário judaico, entre os 14º e 22º dias de Nissan, primeiro mês do calendário Judaico, que equivale a março ou abril no nosso calendário3. Entre os judeus, e seus descendentes, o Pêssach é celebrado em casa, como uma refeição ritual e familiar, rica em simbologia e significados.

Os judeus espalhados por todo o mundo preservam sua identidade através da pratica religiosa do judaísmo. Essa religião os une como povo, ainda que estejam espalhados entre inúmeras nações devido a Diáspora, suas tradições religiosas os mantêm ligados às suas origens, pois os símbolos e ritos de sua fé estão presentes em todos os aspectos de suas vidas:

“(...) as leis de nossa religião formam um todo orgânico, um padrão vivo de conduta para a comunidade e para cada indivíduo que a integra. Os símbolos e ritos da fé impregnam cada aspecto importante da vida: a alimentação, o vestuário, a habitação, o tempo, o sexo, a fala”.4

As Festas Judaicas:

As festas judaicas podem ser divididas em três grandes categorias, e todas elas estão inseridas no ciclo do tempo. São elas: as festas propriamente ditas, chamadas de festas da peregrinação (Pêssach, Shavu’ot e Sukkot); as festas austeras (Rosh Háshanab e Yom Kippur) e as festas menores (Hanukkah e Purim). O que difere estes três tipos de festa é seu conteúdo teológico. As festas da peregrinação, que celebram e atualizam o maior evento salvífico de Israel (O êxodo, a aliança e a entrada na Terra Prometida) são as festas mais importantes do calendário judaico. São chamadas de festas da peregrinação porque desde os tempos bíblicos as famílias judaicas, vindas de diversas regiões, peregrinavam para a cidade de Jerusalém, local onde se realizavam tais festas. As festas austeras celebram o evento do mau uso da liberdade humana, fazendo um contraste entre a fidelidade Divina e a infidelidade humana, buscando promover sentimentos de profundo arrependimento e conversão.

Finalmente, as festas menores são assim chamadas por se referirem a acontecimentos secundários na História de Israel e não possuem origem num mandamento da Torah, que é o livro Sagrado dos Judeus.5 As três primeiras festas citadas, chamadas de festas da peregrinação, podem ser também denominadas, no nosso idioma, de Festa da Páscoa, Festa de Pentecostes e Festa dos Tabernáculos, respectivamente. Todas as três têm origem agrícola, estando ligadas as mais importantes colheitas das três estações produtivas do ano. A Festa da Páscoa (Pêssach), que celebra a colheita da cevada na primavera; a Festa do Pentecostes (Shavu’ot) que celebra a colheita do trigo no verão; e a Festa dos Tabernáculos (Sukkot), que celebra a colheita dos frutos no outono.6

Dentre estas três importantes festas do calendário religioso Judaico, a festa mais importante, e que é objeto de nosso estudo, é a Festa da Páscoa (Pêssach). Os judeus, em suas comunidades espalhadas pelo mundo, aguardam anualmente com grande expectativa esse especial evento religioso. A Festa da Páscoa tem seu fundamento nos escritos da Torah (livro sagrado dos judeus que correspondem aos 05 primeiros livros do Velho Testamento na Bíblia Cristã). A autoria dos escritos do Torah é atribuída, segundo a tradição, a Moisés, considerado o grande libertador e legislador do povo de Israel.7

Quanto à ocorrência da Festa da Páscoa, a mesma tinha, num período mais antigo, um sentido pastoral e agrícola, antes de imbuir-se de um aprofundamento de significado teológico na tradição de Moisés:

“A estrutura da Páscoa tinha, na origem, um sabor tipicamente pastoral: migração para novas pastagens na lua cheia da primavera, vestimentas para a viagem (roupas no corpo e bastão), alimentos de ocasião (ervas amargas e pães cozidos sobre chapas de pedra), sacrifício para a fecundidade do rebanho (cordeiro não despedaçado para que, idealmente, retornasse ao rebanho), sangue propiciatório contra as ciladas da viagem”.8

Nos escritos da Torah, todavia, a festa se reveste de um sentido teológico, narra-se ali que o povo de Israel estava sendo escravizado no Egito por mãos de Faraó, e que Deus (Iahweh) enviou Moisés para, através de sinais espetaculares, ordenar a faraó que deixasse os israelitas saírem do Egito para servirem seu Deus na terra de Canaã, terra que emanava leite e mel, onde os judeus, livres de seus opressores, os egípcios, pudessem ter uma vida tranquila para praticar sua religião monoteísta. Esse evento marcou um novo significado para a celebração da Páscoa Judaica, pois uma festa que, anteriormente tinha um cunho pastoral e agrícola, agora se revestia de um significado litúrgico religioso, de uma festa voltada à celebração de eventos do ciclo de fertilidade da terra, passava-se a um evento de libertação histórica de um povo em relação a seus opressores, os egípcios:

“Com a inserção da Páscoa no contexto do Êxodo tudo se transformou. O relato das capítulos11 e 12 (do Êxodo) combina intencionalmente dois temas independentes, a décima praga e a Páscoa. Tal união mudou o sentido dos velhos ritos dessa festa de pastores, tornando-os históricos. O termo Pesah, considerado uma palavra egípcia por Couroyer, isto é “golpe”, é agora interpretado como “Iahweh que salta, ultrapassa, poupa protege” as casa dos israelitas marcados com o sangue da vítima pascal. O costume dos pastores torna-se o dos viajantes prontos para a caminhada. Os pães sem levedo, sinal da pressa da partida, e, segundo Deuteronômio, sinal “da miséria”, isto é, da escravidão; enquanto que as ervas amargas são explicadas pelo rabi Gamaliel com “a vida amarga que os egípcios nos fizeram levar”.9

De acordo com a tradição religiosa, a prática da celebração de Pessach remonta a esse evento de libertação, ocorrido há cerca de três mil e trezentos anos atrás, aproximadamente, ocasião em que, de acordo com a Torah, o Deus de Israel enviou as dez pragas sobre o povo do Egito, a fim de forçar os egípcios a libertarem o povo de Israel da escravidão. Antes da décima praga, o profeta Moisés foi divinamente instruído a pedir para que cada família hebreia sacrificasse um cordeiro e molhasse os umbrais das portas de suas casas para que seus filhos primogênitos não fossem acometidos de morte. Ao cair da noite, os judeus comeram a carne do cordeiro acompanhada de pães asmos e ervas amargas. Os escritos sagrados narram que à meia-noite, um anjo enviado por Deus feriu de morte todos os primogênitos egípcios, desde os dos animais até os primogênitos da casa de Faraó. Então Faraó, temendo ainda mais a ira Divina, aceitou libertar o povo de Israel para que o mesmo cultuasse a seu Deus (Iahweh) no deserto, o que ocorreu, dando-se assim inicio ao êxodo do povo para a terra de Canaã.

Antes de Deus enviar o Anjo da Morte sobre o Egito, os hebreus foram instruídos a pintarem com o sangue de cordeiros, os umbrais de suas casas, como forma de mostrarem que eram servos do Senhor. 
Esse relato encontra-se no livro de Êxodo, segundo livro contido na Torah. A palavra Pêssach, significa “passar por cima”, no sentido de “poupar”10. Essa expressão refere-se a narração no livro de Êxodo de que ao ser passado o sangue do sacrifício do cordeiro na verga da porta da residência dos judeus, a vida dos seus primogênitos foi poupada da morte naquela noite, o que não ocorreu com os primogênitos dos egípcios, que morreram. Assim é descrito a ordenança no livro sagrado:

“Tomai um molho de hissopo, molhai-o no sangue que estiver na bacia e marcai a verga da porta e suas ombreiras com o sangue que estiver na bacia; nenhum de vós saia da porta da sua casa até pela manhã. Porque o SENHOR passará para ferir os egípcios; quando vir, porém, o sangue na verga da porta e em ambas as ombreiras, passará o SENHOR aquela porta e não permitirá ao Destruidor que entre em vossas casas, para vos ferir”.11

Nos dias de hoje, os judeus guardam esta celebração pascal, porém sem o sacrifício do cordeiro, tradição que era mantida durante as festividades judaicas no templo em Jerusalém até quando o mesmo foi destruído pelos romanos em 70 d.C.12 Iniciou-se então a transformação de Pêssach em uma noite de lembranças, sem o sacrifício pascal. Guarda-se a tradição dessa festa como um memorial entre as gerações a fim de se preservar a religiosidade e de se perpetuar o significado maior da festa: a liberdade.

Rituais de celebração da Páscoa Judaica nos dias de hoje: Preparação da casa para a Pêssach:

Segundo os mandamentos que dizem respeito a Pêssach, presentes no livro de Êxodo, capítulo 12, no décimo quarto dia de Nissan deve-se dar a retirada de todo fermento (chamets) de dentro da casa, visto a lei proibir a ingestão de qualquer alimento levedado durante o período da festa. A proibição de se comer pão com fermento nessa festa deve-se a explicação de que os judeus saíram apressadamente da terra do Egito e não houve tempo para que a massa levedasse.

Fatias de pão asmo (matzot). O pão pode ser em formato quadrangular ou circular, desde que não possua fermento. 
Nesse período de festa só é permitido aos judeus a ingestão de pão sem fermento (pão asmo). A busca pelo chamets é feita à luz de uma vela. Os membros da família percorrem todos os aposentos da casa buscando onde possa haver qualquer alimento fermentado como migalhas de pão, biscoitos, ou outro produto semelhante. Costuma-se também colocar no interior da casa dez pedaços de pão bem embrulhados, para que não se caia nenhum farelo, espalhando-os livremente pelo ambiente a fim de serem achados e coletados pelas crianças, as quais, munidas de uma pena, irão “varrer” o chametz encontrado. Antes, porém, desta busca iniciar recita-se a seguinte oração: “Bendito és Tu, Senhor nosso Deus, Rei do Universo que nos santificou com Seus mandamentos e nos ordenou remover o chametz”.

O ritual de "varrer o chametz". 
Após a busca ser concluída e ocorrer a retirada de todo chametz, recita-se a oração de anulação: “Todo fermento ou qualquer produto fermentado em meu poder que não vi ou removi, e de que não tenho consciência, seja considerado sem valor e sem dono como o pó da terra”. O chametz encontrado deverá ser então separado a fim de ser queimado na sinagoga na manhã seguinte, juntamente com o chametz das outras famílias que da mesma forma os coletaram em seus lares.13

Componentes do seder pascal:

No Talmude (compilação de leis e tradições judaicas) estabelece-se uma ordem (seder) para a comemoração de Pêssach. Trata-se de uma reconstituição simbólica da historia de saída dos judeus do Egito narrada pelos membros da família e pelos convidados ao redor da mesa festiva da refeição. À mesa, são dispostos alimentos ricos em simbolismo, a fim de se trazer à memória essa experiência. A descrição da disposição da mesa e dos alimentos, bem como seu simbolismo, foi extraída da Revista Visão Judaica, edição 2006 no que segue:

No Sêder, prepara-se a mesa da seguinte forma: no centro de uma bandeja colocam-se três matzot (pães asmos), que representam os três grupos de judeus: Cohanim, Leviim e Israel. Ao lado dessas matzot, colocam-se os seguintes símbolos: 

Zeroá - Pedaço de osso do cordeiro ou ovelha, que se coloca na parte superior, à direita da bandeja. Este osso simboliza o poder com que Deus nos tirou do Egito e o cordeiro nos lembra o cordeiro pascal, sacrificado no Templo. 

Betsá - Ovo cozido, colocado na parte superior à esquerda da bandeja, simboliza uma lembrança do sacrifício que se oferecia em cada festividade. Uma das inúmeras ideias relacionadas com o ovo colocado como símbolo na travessa do sêder é de que, normalmente, um alimento quanto mais é cozido, mais macio se torna. No caso do ovo é o contrário; quanto mais se coze, mais duro se torna. Assim é o povo judeu: quanto mais é oprimido ou afligido, como ocorreu no Egito, mais fortalecido e numeroso se torna.

Marór - Erva amarga, colocada no centro da bandeja, simboliza o sofrimento dos judeus escravos no Egito. Usa-se escarola, verdura mais amarga que alface. 

Charósset - Mistura de nozes, amêndoas, tâmaras, canela e vinho. Colocada na parte inferior à direita da bandeja, representa a argamassa com a qual os judeus trabalhavam na construção das edificações do faraó.

Karpás - O salsão, colocado embaixo, à esquerda. Essa verdura, molhada em vinagre ou água salgada, serve para dar o “sabor” do Êxodo. Lembra o hissopo (Ezov) com o qual os israelitas aspergiram um pouco de sangue nos batentes de suas casas, antes da praga dos primogênitos. 

Chazéret - Escarola. Coloca-se sob o Marór. Além disso, coloca-se na mesa: Um recipiente com água salgada, em que se mergulham as verduras. Lembra o mar. E a taça para cada um dos presentes.14

Os seis componentes do seder pascal. 
O ritual de realização do sêder pascal:

O seder é a refeição da noite de Páscoa, sendo esta a mais rica e mais solene entre todas as refeições hebraicas. A tradição rabínica estabelece quatorze pontos nas quais cada palavra exprime um elemento particular no ritual, que deve ser seguido detalhadamente a fim de cumprir com cuidado cada momento:

1. Qaddesh. É o início da celebração pascal, e consiste em uma benção pronunciada sobre um copo de vinho, que é bebido no final da oração.

2. Urhas (ablução das mãos). Lavam-se as mãos, sem entretanto recitar as bênçãos comuns, porque a refeição propriamente dita ainda não se inicia.

3. Karpas (sentem-se). Come-se uma folha de erva molhada no vinagre, como lembrança da amargura da escravidão.

4. Yahas (dividir) - Pegam-se os três pães asmos, quebra-se ao meio o que está ao centro, pondo uma metade novamente no centro e escondendo a outra metade em qualquer lugar, por exemplo, debaixo da toalha.

5. Maggid (narrador). Enche-se um segundo copo de vinho, e antes de bebê-lo narra-se a libertação do Egito, explicando o seu sentido e a atualidade com trechos da Bíblia e com narrações, hinos, cânticos e salmos. É a parte mais importante e específica do seder pascal.

6. Rohah (ablução). Lavam-se as mãos com a bênção habitual.

7. Mohsi’ massah (bênção dos asmos). Abençoa-se o pão como de costume, sendo que desta vez é o pão asmo, isto é, sem fermento, e come-se um pedacinho.

8. Maror (erva amarga). Come-se uma folha de erva amarga com um pouco de haroset, o doce composto de maçãs raspadas e de nozes, recorda como os hebreus, com sua coragem e seu amor pela liberdade, conseguiram suportar a escravatura egípcia.

9. Korek (envolver). Agora come-se uma folha de erva amarga, desta vez, com um pedaço de pão asmo.

10. Shulhan ‘Orek (ceia). É a hora da ceia, que se inicia, tendo como entrada um ovo ou outros alimentos especiais, ricos de conteúdo simbólico.

11. Safun (escondido). Come-se o pedaço de asmo que havia sido escondido previamente e que, com um termo de explicação incerta, é chamado de afiqoman. Ele é comido em memória do cordeiro pascal, e depois dele é proibido comer qualquer coisa até dia seguinte.

12. Barek (bênção). Terminada a refeição, lavam-se as mãos como de costume e se recita a Bircat ha-mazon (prece após a refeição), enchendo o terceiro copo e bebendo-o no fim.

13. Haliel (louvor). Então agradece-se a Deus pela ceia pascal através da qual se reviveu o milagre da liberdade. Enche-se um copo de vinho (o quarto), que se bebe depois de ter recitado os salmos 115-118, chamados de hallel. No fim de tudo abre-se a porta, para favorecer a entrada de Elias, o mensageiro da era messiânica.

14. Nirsah (aceitação). Anuncia-se o final da ceia pascal e pede-se a Deus que seja sempre o libertador de Israel.15

Essa celebração festiva, com toda sua riqueza de significado é celebrada todo ano nas comunidades judaicas espalhadas pelo mundo, e o Centro Israelita do Paraná (CIP), também o faz, buscando assim preservar suas tradições religiosas, perpetuando-as nas sucessivas gerações dos descendentes judeus aqui no Brasil. Essa prática religiosa, realizada, quer nos lares, quer nas Sinagogas, demonstra a riqueza do Patrimônio Cultural Brasileiro em toda a sua diversidade.

NOTAS:
1 FUNARI, Pedro Paulo e PELEGRINI, Sandra C. A . O Patrimônio Histórico e Cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2006, p. 54-55.
2 Histórico do CIP. Disponível no Site: http://www.kehila.com.br/entidades/cip/historico.htm. Acesso em Março 2007.
3 O ano judaico tem doze meses lunares de vinte e nove ou trinta dias cada um. O calendário lunar tende a registrar um atraso de cerca de um mês a cada três anos, havendo assim a necessidade de “acrescentar” um mês no calendário de tempos em tempos. Com o exílio judeu e a Diáspora, tornou-se difícil essa correção entre os judeus que ficaram longe de sua pátria. Um grupo de rabinos elaborou um calendário perpétuo a partir de ciclos de dezenove anos, no qual sete meses são regularmente “acrescentados” de tal maneira que Pêssash sempre coincida com o equinócio da primavera, sendo este calendário utilizado até os dias de hoje. Conforme: WOUK, Herman. Este é o meu Deus. Amaneira judaica de viver. São Paulo: Editora Sêfer, 2002. p. 68.
4 WOUK, Herman. Este é o meu Deus. Amaneira judaica de viver. São Paulo: Editora Sêfer, 2002. p. 44.
5 Di Sante, Carmine. Liturgia Judaica: Fontes, estrutura, orações e festas. São Paulo: Paulus, 2004. p. 210.
6 Ibidem, p. 214.
7 DOUGLAS, J.D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1998. p.1257,1258.
8 RAVASI, Gianfranco. Êxodo. São Paulo: Edições Paulinas,1985.p.59.
9 RAVASI, Gianfranco. Êxodo. São Paulo: Edições Paulinas,1985. p.59,60.
10 ELWELL. Walter A (organizador). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. vol. III.
São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1998 .p101.
11 Citação do Livro de Êxodo 12:22, 23: Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil,1999. p.92.
12 DOUGLAS, J.D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1998. p.1574.
13 Pêssash. IN: Visão Judaica 2006, p 3,4.
14 Pêssash. IN: Visão Judaica 2006, p.4.
15 Texto retirado da obra: Di Sante, Carmine. Liturgia Judaica: Fontes, estrutura, orações e festas. São Paulo: Paulus, 2004. p. 178-180.

Referências bibliográficas:
BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil,1999.
DI SANTE, Carmine. Liturgia Judaica: Fontes, estrutura, orações e festas. São Paulo: Paulus, 2004.
DOUGLAS, J.D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1998. p. 1574.
ELWELL, Walter A (organizador). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. vol. III. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1998. P. 101.
FUNARI, Pedro Paulo e PELEGRINI, Sandra C. A. O Patrimônio Histórico e Cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
Histórico do CIP. Disponível no site do Centro Israelita do Paraná: http://www.kehila.com.br/entidades/cip/historico.htm. Acesso em Março 2007.
Pêssash. IN: Visão Judaica 2006, Disponível no site: www.visaojudaica.com.br. Acesso em Março 2007.
RAVASI, Gianfranco. Êxodo. São Paulo: Edições Paulinas, 1985. p.59-60.
WOUK, Herman. Este é o meu Deus. A maneira judaica de viver. São Paulo: Editora Sêfer, 2002.

Fonte: http://www.mssps.org.br/pascoa_judaica.pdf

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