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Leandro Vilar

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Os Povos Celtas

Os Celtas na realidade não consistiu em um único povo, mas sim num conjunto de povos de organização tribal, que compartilhavam alguns aspectos em comum, principalmente o caso da língua céltica, língua essa de origem indo-europeia, introduzida por volta do segundo milênio a.C na parte oriental da Europa, por povos vindos da Ásia Menor, e tais povos acabaram se miscigenando com os habitantes da Europa oriental e central, levando a difusão dessa língua e séculos depois ao surgimento dos Celtas. 

Nesse texto procurei abordar alguns aspectos gerais dos Povos Celtas, remetendo-se as suas origens, suas localizações, suas identidades, costumes e crenças, pois a história desses povos é ampla e bem diversificada.

Os Celtas surgem para a História

Os relatos históricos mais antigos conhecidos a respeito dos celtas pertencem ao  geógrafo grego Hecateu de Mileto (ca. 540 - ca. 475 a.C), o qual diz que próxima a colônia grega de Massília (atual Marselha no sul da França), na terras dos Lígures. Hecateu conta que a nordeste e noroeste dessas terras habitariam um povo chamado de Keltoi. Hecateu também chegou a mencionar uma suposta cidade desse povo, a qual ele chamava de Nirax, local este que os historiadores acreditam ser a antiga região de Noricum, que compreende hoje a província de Estíria no sul da Áustria

Mapa-múndia segundo Hecateu de Mileto (século VI-V a.C). Nota-se no mapa, que os celtas viveriam na parte ocidental da Europa, no que hoje corresponderia em grande parte a atual França. 
Outra fonte grega que fala a respeito desse povo, provêm do historiador grego Heródoto de Halicarnasso (480?-420 a.C), o qual em seu livro Histórias, Heródoto menciona brevemente a respeito dos celtas dizendo que eles viveriam na região onde nascia o rio Danúbio, um dos grandes rios que cruzam a Europa. Porém, devido a falta de conhecimento geográfico acerca da Europa, Heródoto acertou por um lado e errou por outro. Para ele, o rio Danúbio nasceria na Cordilheira dos Pirineus, hoje localizada no nordeste da Espanha e sudeste da França, porém o rio Danúbio, nasce na Alemanha. Além disso, a partir desse erro geográfico, para Heródoto os keltoi viveriam na Hispânia, nome dado a Península Ibérica, porém Heródoto não errara por completo; de fato algumas tribos celtas habitaram o nordeste do atual território da Espanha e possivelmente a região que hoje corresponde a Galícia no noroeste da Espanha e talvez o norte de Portugal. 

"Por muito mal informado que Heródoto estivesse sobre a localização do curso inicial do Danúbio, a crença da formação desse rio em território celta pode não se ter apoiado, meramente, na sua suposta associação com Pirene. Sobre o Danúbio Inferior dispunha Heródoto de informações muito mais completas. Sabia que podia ser subido por barcos numa grande extensão e que atravessava terras habitadas em todo o seu curso. Parece mais do que provável que, por esta via, chegassem notícias da existência daí o referirem-se ambas as fontes de informação a uma e mesma localização. Na verdade, as provas arqueológicas vão ao ponto de mostrar ter sido a região do Danúbio Superior a pátria dos Celtas, de onde uns tantos deles passaram primeiro a Hispânia, e um pouco mais tarde para Itália e para os Balcãs". (POWELL, 1974, p. 16).

O historiador grego Éforo de Cime (405-330 a.C), concordava em dizer que os Celtas habitavam o ocidente da Europa e as regiões centrais do continente.  Éforo considerava os Celtas como um dos quatro grandes povos bárbaros do mundo até então conhecido pelos gregos. Os outros povos eram os Citas, os Persas e os Líbios. Um século depois da morte de Éforo, o geógrafo grego Eratóstenes (276-194 a.C) dizia que os Celtas viviam espalhados por muitas terras que compreendiam a Europa Ocidental e Transalpina (que fica ao norte dos Alpes). 

Ancestralidade euro-asiática: Origens dos celtas

Pelo fato dos Celtas terem sido vários povos, não significa que surgiram de vários povos, embora tenham se misturados com outros povos, como será visto mais adiante. Hoje, graças ao desenvolvimento da história, da antropologia, da arqueologia e de outras ciências ao longo do século XX, possibilitou os historiadores e arqueólogos chegarem cada vez mais perto da origem dos povos celtas.

"Se se perguntasse à maioria dos arqueólogos qual lhes parecia ser o fundo cultural dos Celtas conhecidos historicamente, de Heródoto a César, não teriam a menor dificuldade em responder, especialmente se formados nas escolas do continente, que as extensas culturas baseadas no uso dos metais, conhecidas pelos nomes de Hallstatt e La Tène, substanciavam, geograficamente e cronologicamente, os relatos históricos". (POWELL, 1974, p. 28).

Por volta do segundo milênio a.C, comunidades agrícolas e pastoris vindas da Ásia Menor (hoje Turquia) adentraram o leste europeu onde se estabeleceram pela região chamada de Balcãs (região essa que compreendem os atuais países da Grécia, Macedônia, Bulgária, Albânia, Bósnia e Herzegovina, Kosovo, Montenegro, Sérvia, Croácia, e o sul da Eslovênia e da Romênia), no caso em questão tais habitantes asiáticos se limitaram a parte mais sudeste do continente, no que hoje corresponde a Bulgária. Antes desse povos da Ásia Menor chegarem a Europa, outros povos asiáticos de língua indo-europeia já haviam chegado ao continente e se miscigenados com os povos europeus. 


A península Balcânica ou Balcãs. Porta de entrada para vários povos asiáticos na Europa.
Esses novos emigrantes cruzaram o estreito de Dardanelos que separa a Ásia Menor da Europa, atrás de novos pastos e terras para se viver, pois o clima temperado da Europa naquela época era bem mais aconchegante e agradável que o clima da Anatólia (região semidesértica na parte ocidental da Ásia Menor) que havia ficado mais seco e quente. 

"Na Europa temperada, os mais antigos e importantes emigrantes neolíticos entraram vindos do Sueste, e tomaram posso das ricas e facilmente laboráveis terras de loess da bacia do Médio Danúbio, estendendo-se dali para o Reno e seus principais afluentes, para a confluência do Saale e do Elba e para as margens superiores do Oder". (POWELL, 1974, p. 29).

Mas um problema que ainda persiste nessa questão é que ainda hoje não se sabe ao certo quem foram esses povos asiáticos que se estabeleceram nos Balcãs. Ao longo dos séculos, dezenas de povos viveram e passaram pela Ásia Menor, e descobrir rastros de pessoas que ali viveram há quatro mil anos, não é uma tarefa fácil. No entanto, Powell [1974] aponta que estes emigrantes trouxeram consigo quatro algumas mudanças bem impactantes que contribuíram para moldar os povos europeus pelos séculos seguintes.

Tais povos trouxeram consigo a metalurgia à base do cobre e do bronze, pois até então, apenas na Grécia e em Creta a metalurgia era conhecida, o restante do continente a desconhecia; as pessoas ainda usavam armas e ferramentas feitas de pedra, embora que houvessem minas destes metais no continente, elas ainda não eram exploradas. A proximidade da Grécia, de Creta e das ilhas egeias, da Ásia Menor e do Egito, facilitou esse intercâmbio cultural. 

"Fosse qual fosse a sua língua, os primeiros metalúrgicos dos Balcãs exerceram uma grande influência na Europa Central, e um dos objectos mais característicos que negociavam e levaram para o norte foi o machado perfurado, de ou de bronze". (POWELL, 1974, p. 31).

Outro aspecto que tais povos trouxeram consigo foram novas técnicas de agricultura as quais contribuíram para melhorar a eficiência do plantio e da colheita e tornar cada vez mais sedentárias as populações, pois alguns povos europeus eram seminômades. Junto a agricultura veio também a criação do gado bovino, que já era conhecida em algumas áreas dos leste até o ocidente do continente, mas uma nova pecuária fora introduzida, a criação de cavalos. No entanto, os cavalos demoraram para serem difundidos pelo continente, pois a equitação era desconhecida em grande parte, e de certa forma os cavalos não eram apenas criados para servirem de meio de transporte e carga, mas também como alimento. Na Europa já haviam cavalos habitando a região oriental do continente, mas sua domesticação tardou a acontecer, logo, serviam como animais para serem caçados.

"Não é raro encontrar ossos de cavalo, juntamente com ossos de outros tipos de gado, inclusive de porcos, nas sepulturas de toda a zona da cultura considerada, mas mesmo o cavalo doméstico poderia ter começado por ser criado pela carne e pelo leite. Por outro lado, não é de se esperar que o tarpan (o pequeno cavalo euro-asiático em questão) tenha sido acrescentado indiscriminadamente aos rebanhos de reses para abater e, vistas as coisas praticamente, parece natural que o seu grande valor como besta de carga tenha sido reconhecido em data muito recuada". (POWELL, p. 1974, p. 33).

Um quarto aspecto que marca a influência dessas culturas estrangeiras, fora  introdução de outras línguas indo-europeias (família de centenas de línguas e dialetos desenvolvidos entre a Europa e a Ásia até o limite do Vale do Indo, no atual Paquistão), e uma dessas línguas dera origem a língua céltica, alguns séculos depois. 


Um quinto aspecto a ser considerado fora a introdução de um novo estilo de cerâmica, chamada campaniforme. Tal povo que introduziu tal estilo de cerâmica fora na época de sua "descoberta", chamados de "povo dos vasos". Sabe-se que tal povo além de agrícola era também pastoril, e possuía como principal arma, o arco e flecha, feitos de pontas de sílex. Tal povo também fora responsável por difundir a criação de ovelhas. As descobertas arqueológicas apontam que o "povo dos vasos" se espalhou pela Europa Ocidental, chegando ao sul da Alemanha e até mesmo à Grã-Bretanha. 




Vaso de cerâmica de estilo campaniforme. O nome campaniforme se deve ao fato de que o formato do vaso lembra alguns tipos de flores. Fora introduzido na Europa, há mais de três mil anos.


Assim, transcorridos praticamente mil anos desde a chegada desses povos asiáticos aos Balcãs e posteriormente a miscigenação destes com outros povos do leste e oeste da Europa, no centro do continente, hoje nos territórios que compreendem a Baviera e a Boêmia no sul da Alemanha e parte da Áustria, em terras nos arredores do Danúbio e de alguns de seus afluentes surgiu uma cultural chamada de Cultura de Hallstatt (900-500 a.C), nome esse dado pelo arqueólogo Johann Georg Ramasuer em meados do século XIX, a partir de escavações realizadas no sítio arqueológico de Hallstatt na Áustria. 


Ramasuer durante seus vários anos de pesquisa concluiu que tal cultura surgida por volta do século X a.C marcou o final da Idade do Bronze no centro da Europa e o início da Idade do Ferro. Entre o século X a.C e o VI a.C a Idade do Bronze terminou na Europa, dando espaço para a Idade do Ferro. Por volta do século V a.C foram descobertos túmulos contendo espadas, escudos e adagas de ferro, carroças com rodas de bronze, além de joias em ouro e prata, e até mesmo cerâmicas importadas da Itália e da Grécia, tal fato aponta a existência de um comércio primitivo entre a Europa Central e as penínsulas itálica e grega.


Gravura retratando tumbas da Cultura de Hallstatt.

A Cultura de Hallstatt acabou originando por volta do século V a.C a chamada Cultura de La Tène (V-I a.C), nome que deriva do sítio arqueológico de La Tène, localizado na Suíça, descoberto no século XIX por Hans Kopp. Tal cultura se espalhou pela França, sul da Alemanha, Suíça, sul da Áustria, norte da Itália, chegando até mesmo a República Checa e a Hungria. No entanto o que ambas as culturas de Hallstatt e La Tène possuem em comum, é o fato que ambas falavam a língua céltica e possuía costumes e hábitos em comum. 

Se voltarmos ao relato de Hecateu de Mileto no século VI a.C, onde ele apontava a região que os celtas habitavam, a mesma coincide com o local onde essas culturas existiam e continuavam a existir, logo, os historiadores, arqueólogos e antropólogos chegaram a conclusão que as culturas de Hallstatt e de La Tène seriam a origem dos Povos Celtas.



Em verde a disseminação inicial da Cultura de Hallstatt. Em amarelo o núcleo inicial da Cultura de La Tène. Em Vermelho a extensão máxima do território dos povos celtas no século III a.C. 

Embora ainda haja debates acerca se todos os povos celtas teriam se originado de ambas as culturas anteriormente citadas, alguns historiadores chegaram a conclusão que alguns povos celtas, foram na realidade originados da miscigenação com outros povos que já habitavam tais terras. Sobre isso, será o tema da próxima parte deste trabalho.

A expansão territorial: Conhecendo os povos celtas

1) Gálias

"Cerca de um quarto de século após a morte de Heródoto, foi o Norte de Itália invadido por bárbaros chegados através dos passos alpinos. Estes invasores eram celtas, como se vê pelos seus nomes e descrição, mas os Romanos chamavam-lhes Galli, donde derivou Gallia Cisalpina e Transalpina. Políbio, escrevendo mais de dois séculos depois, refere-s aos invasores como Galatae, palavra largamente empregada pelos autores gregos. Por outro lado reconheceram Diodoro da Sículo, César, Estrabão e Pausânias serem Galli e Galatae nomes equivalentes a Keltoi/Celtae, e César esclarece que os Galli do seu tempo davam a si mesmos o nome de Celtae". (POWELL, 1974, p. 20).

As Gálias foram grandes porções territóriais que cobriram um vasto território da Europa Ocidental, mas em geral suas populações eram chamadas de gauleses pelos romanos, embora que algumas tribos possuíssem uma identidade própria e se referiam por outros nomes, como o caso dos belgashelvécios e os avernos. Mas para entendermos melhor isso, é preciso antes apresentar a disposição geográfica das Gálias na Europa pré-cristã (pois durante o Império Romano, a Gálias foram redivididas territorialmente).


Mapa romano retratando as Gálias e os territórios da Bretanha e da Germania no ano de 58 a.C. A divisão em Aquitânia, Bélgica e Narbonensis fora dada pelos romanos, pois originalmente tudo isso era chamado Gália Cabeluda, Céltica ou Gália Transalpina. 
Os romanos já sabiam da origem dos gauleses, graças aos textos gregos, embora nunca foram de ir visitá-los. Na História, há poucos relatos sobre expedições oficiais romanas à região da Céltica, também chamada Gália Transalpina ou Gália Ulterior. Por volta do final do século V a.C os gauleses atravessaram os Alpes e passaram a ocuparem a região da planície do rio do Pó, hoje no norte da atual Itália. em 390 a.C os gauleses invadiram e saquearam Roma, porém nas décadas seguintes se estabeleceram definitivamente no norte da península itálica, chegando até mesmo a conquistarem a antiga Etrúria, região onde viviam os etruscos. Regiões italianas hoje como a Lombardia, a Bolonha e a Toscana, nesse período foram ocupadas pelos gauleses. Toda essa região ficaria conhecida como Gália Cisalpina ("aquém dos Alpes"). No século II a.C, os romanos conseguiriam conquistar a Gália Cisalpina, pelo menos grande parte dela. Tornado-a um caminho para a próxima conquista, a Gália Transalpina.

Além dessas "duas Gálias", os romanos designavam mais três: a Gália Belga (localizada no que hoje seria o norte da atual França e parte do sul da atual Alemanha, como também parte dos territórios da atual Bélgica e da Holanda); a Aquitânia, localizada no sudoeste da atual França, e a Província Romana, mais tarde chamada Narbonensis, região controlada pelos romanos, pois existiam ali antigas colônias gregas os quais os romanos aproveitaram para firmar como ponto de base para dominar aquela região. A todo esse conjunto, os romanos chamavam a Céltica, a Bélgica e a Aquitânia de "três Gálias" ou Gália Cabeluda. De acordo com os relatos de Júlio César (100-44 a.C) os celtas-belgas ou belgas, foram os gauleses mais difíceis de serem conquistados, pois eram tidos como ferozes guerreiros. César deixou tais relatos de suas campanhas pelas Gálias em seu livro Comentarii de Bello Gallico (Comentários sobre a Guerra da Gália).

Fora a partir da grande iniciativa de Júlio César na época que ainda era cônsul,  solicitou ao Senado que oficializa-se sua ida para conquistar a Gália Cabeluda. César como sendo um homem ambicioso, prepotente e ávido por glória e poder, conseguiu o direito de liderar legiões para se conquistar os gauleses. Do ano de 58 a.C até 52 a.C praticamente toda a Gália Cabeluda fora conquistada por Júlio César. Algumas cidades ainda permaneceram de certa forma "independentes" do julgo romano, embora se mantivessem como tributárias à República. Outras cidades foram assimiladas pelos romanos e tiveram até mesmo os nomes mudados. E por fim uma terceira opção fora a destruição. As legiões de César cometeram verdadeiras barbaridades na Guerra da Gália. Historiadores acreditam que centenas de milhares de gauleses foram mortos, incluindo mulheres e crianças. 

Pintura retratando a rendição de Vercingetórix à Júlio César. Vercingetórix fora um líder averno que trouxe vários problemas para os romanos por cerca de dois anos. Com a sua rendição em 52 a.C, os romanos conquistaram a Gália. Pois de certa forma, os exércitos de Vercingetórix eram as últimas esperanças dos gauleses. 

Sendo finalmente conquistada pelos romanos, nos séculos seguintes que vieram com o império, os gauleses foram perdendo cada vez mais sua identidade cultural, a língua céltica fora substituída pelo latim vulgar e depois por outros idiomas que chegaram com povos invasores vindos da Germania e do leste. Os costumes foram "romanizados". 

2) Celtiberia

Por volta do século VI a.C alguns celtas vindos da Aquitânia cruzaram os Pirineus e adentraram na Hispânia ou Ibéria, lá eles se estabeleceram próximo do centro da península e depois migraram para o leste, embora ainda é incerto os locais que eles habitaram, pois além dos iberos, povo nativo desta península estarem espalhados por essa, outros povos também ali habitavam, e fora a partir dessa miscigenação entre os celtas e os iberos, que surgiu o povo celtibero.

De certa forma, sabe-se que tal povoamento celta ocorreu na Ibéria, pois como fora visto, Hecateu e Heródoto diziam que haviam celtas por estas terras, e no caso de Heródoto, esse acreditava que os celtas não seriam nativos da Europa Central, mas, sim da Península Ibérica. 

Mapa retratando os prováveis territórios originais das tribos celtiberos. Em vermelho, os árevacos; em laranja, os pelendones; em azul, os lusos; em verde claro, os belones; em verde, os lobetanos, em amarelos os tittos e em amarelo mostarda, os belos.

Sabe-se que tais tribos migraram para o leste, chegando até a costa. No noroeste da península surgiu a tribo dos galegos que habitavam a Galiza ou Galícia, e ao sul desta região, surgiu a Lusitânia, habitada pelos lusos ou lusitanos, antepassados dos portugueses. Entretanto, alguns historiadores questionam se os galegos teriam se originado de tribos celtiberas, ou na realidade seriam outro povo aparentado. No caso da Lusitânia, ainda há dúvidas se os celtiberos ocuparam a região, como alguns acreditam, embora que pesquisas apresentaram vários topônimos com nome celtas, porém não significa que os celtiberos ali viveram, mas que os povos que ali habitavam falavam celta. 

Por volta do século III a.C os cartagineses vindo da cidade-estado de Cartago  no norte da África, conquistaram parte da Hispânia como a península era conhecida na época. As tribos de celtiberos, iberos e outros povos foram expulsos para o norte da península, pois os cartagineses ocuparam preferencialmente o sul, pois dava acesso ao mar Mediterrâneo, e ficava mais perto do apoio de Cartago. No século II a.C, em 133 a.C, os romanos conquistaram a Hispânia. Com a derrota dos cartagineses após três sofríveis guerras, a Hispânia ficara vulnerável a cobiça dos romanos. 

Os celtiberos e os demais povos da península foram "romanizados" e posteriormente sofreram a influência cultural de outros povos, como dos visigodos e posteriormente dos mouros

3) Bretanha e Irlanda

Os bretões diferente dos que muitos devem pensar não foram um povo originário da Bretanha que hoje conhecemos como Grã-Bretanha, mas os bretões eram uma tribo celta, originária da Bretanha, localizada na Gália Transalpina ou Céltica, que por volta do século VIII a.C iniciaram migrações para a ilha que ficaria conhecida também como Bretanha.

A região da Bretanha (Bretagne) na atual França. Tal região é o lar de origem dos bretões.
Vestígios arqueológicos encontrados ao longo das margens lamacentas do Tamisa e no sul da atual Inglaterra, apontam cerâmica, ferramentas, armas, etc., fabricados pelos celtas, tais objetos indicam que ou havia um comércio recorrente entre a ilha e o continente, ou famílias celtas-bretãs estavam iniciando uma migração em massa para a ilha. Sabe-se que tal migração ocorreu, e durou por pelo menos até o século I a.C.

"Os primeiros emigrantes para o Sul da Grã-Bretanha, resultantes da expansão dos campos de urnas, eram refugiados do Norte da França, que é possível identificar pela sua cerâmica feitas no estilo da Idade do Bronze média francesa. Encontraram-se em Kent provas de tais colonizações, mas, na parte inicial do século VIII a.C, tinham começado imigrações mais sérias e em grande escala. As terras de cré do Sul da Inglaterra foram as mais afectadas, e o grosso das provas vem de Sussex, Dorset e Wiltshire". (POWELL, 1974, p. 54). 

Por volta de 638 a.C os gregos antigos receberam informações sobre a existência das grandes atuais ilhas da Grã-Bretanha e da Irlanda. Por volta dessa época corriam por Massilia, colônia grega no que hoje é atualmente Marselha na França, os relatos de um viajante grego chamado Coleu de Samos, o qual teria escrito o Périplo. Diz-se que tal crônica Périplo fora escrita na cidade de Tartesso, localizada as margens do rio Guadalquivir no sul da atual Espanha, onde Coleu tivera a oportunidade de visitar e depois acompanhar um navio da cidade em viagem para além das Colunas de Hércules (Estreito de Gibraltar), navegando depois para o norte até as ilhas Oestrymnides, onde nesse arquipélago haviam duas grandes ilhas, Ierne e Álbion

"É esta a referência mais antiga à Irlanda e á Grã-Bretanha, sendo aquelas formas gregas de nomes que sobreviviam entre os nativos, que falavam o ramo irlandês do céltico. O Ériu do irlandês antigo e Éire do moderno derivaram de uma forma anterior que deu Ierne em grego, sendo o nome Albu empregado em irlandês, com o significado de Grã-Bretanha até o século X". (POWELL, 1974, p.25). 

Entre os anos de 325 e 323 a.C o viajante grego Píteas, partindo de Massília fora o segundo grego a relatar uma viagem até as ilhas de Álbion e Ierne, mas na ocasião de sua viagem, o arquipélago era chamado de Ilhas Pretanic, e a maior das ilhas, hoje a Grã-Bretanha era chamada naquela época de Pritani ou Priteni. Termos também utilizados para designar seus habitantes, os pritani. Hoje sabe-se que tais palavras são de origem céltica, porém para os antigos gregos e romanos, os bretões e irlandeses não seriam celtas, pois seriam "diferentes" dos gauleses. Para os romanos o fato dos costumes dos bretões, irlandeses não se parecerem com os gauleses que habitualmente eles conheciam, os diferenciavam, porém, linguisticamente e geneticamente, ambos os povos eram celtas. 

De qualquer forma, fora a partir de um erro de interpretação ou escrita pelos gregos ou romanos, que as palavras Pritani se tornou Britain, ou Britanni, ou Britannia. Quando Júlio César em 56-55 a.C visitou a ilha, ele referiu-se em seu livro como sendo aquela ilha chamada de Britannia e seus habitantes de bretões. 

De qualquer forma, os bretões foram os responsáveis por introduzirem a "Idade de Ferro" no arquipélago britânico, além de também tornar a língua bretã (Brezhoneg) uma língua de origem céltica, uma das línguas mais faladas na ilha. No entanto devo fazer a ressalva, que a língua inglesa, não deriva da língua bretã, mas tem sua origem em idiomas germânicos. Por volta do III a.C, o metade do atual território da Inglaterra, incluindo o País de Gales e a Cornualha. Em ambas regiões, o bretão sofreu variações locais, dando origem ao galês e ao côrnico. Também é mencionável o fato que ainda no III a.C a Irlanda já tinha sido praticamente ocupada pelos bretões, e sua língua deu origem ao irlandês antigo ou gaélico, e nas Ilhas de Man, surgiu o gaélico manês. Os bretões que se fixaram na Irlanda e ali se misturaram com os escotos e outros povos locais, deram origem aos irlandeses ou gaélicos.  


Em vermelho os bretões, em verde os irlandeses (ou gaéis) e em azul os pictos.
Na Escócia, os bretões confrontaram os pictos, povo nativo. Por volta do século V d.C os pictos que haviam se miscigenado com os bretões e os irlandeses, passaram a adotar uma variante da língua bretã, principalmente da ramificação do irlandês antigo ou gaélico, dando origem ao gaélico escocês, língua hoje praticamente em desuso, pois poucos são aqueles que ainda a falam. 

Dos séculos III a.C ao I a.C as últimas levas de migrações célticas chegaram a Bretanha, dessa vez foram os belgas que se fixaram no sul da ilha, embora que não tiveram grande impacto cultural em toda a ilha, pois até mesmo sua variante linguística o "belga" não conseguira sobrepujar o bretão que era amplamente falado na ilha, nem os romanos conseguiram impor com sucesso o latim. Posteriormente por volta dos séculos V e VI já da Era Cristã, as invasões dos anglos, dos saxões de outros povos, vindos da Germania, levaria a expulsão dos romanos por estes e assimilação da Bretanha pelos novos conquistadores, os quais seus idiomas dariam origem a língua inglesa. 

Mas antes de findar essa parte, uma questão interessante a ser dita é que a língua irlandesa antiga, fora praticamente a terceira língua do continente europeu a ter forma escrita e ser amplamente difundida, embora que apenas em seu território. A língua grega e a língua latina predominaram em parte da Europa como sendo até então os únicos idiomas europeus escritos, mas o terceiro fora o irlandês. Relatos de textos escritos em pedra, datam o século IV, e até mesmo quando a Irlanda começou a ser cristianizada a partir do século VII, haviam monges irlandeses que chegaram a traduzir trechos da Bíblia para o irlandês e até mesmo a pregar em irlandês, isso revela como era forte a identidade linguística daquele povo. 

"Os mais antigos exemplos sobreviventes do irlandês escrito encontram-se em livros religiosos dos séculos VIII e IX, onde o texto latino está acompanhado de notas explicativas, e por vezes de outros comentários, na língua local dos monges contemporâneos. Estes livros religiosos fornecem o mais importante padrão aferidor cronológico da linguagem dos textos preservados unicamente em manuscritos posteriores". (POWELL, 1974, p. 62). 


No mapa estão representados algumas línguas de origem céltica que ainda hoje são faladas. Em roxo, o bretão; em laranja o côrnico; em amarelo, o galês; em vermelho, o gaélico manês; em verde o gaélico ou irlandês antigo; em azul o gaélico escocês.  

4) Panônia

A Panônia era uma antiga região localizada na Europa Central, em torno do rio Danúbio, a qual posteriormente se expandira englobando hoje o que é o território da Áustria, parte do norte da atual Eslovênia e o oeste da atual Hungria. Alguns historiadores consideram que os panônios fossem um povo surgido a partir da miscigenação entre tribos celtas e ilírias que habitavam a região há alguns séculos. Pois os panônios possuíam em seu dialeto, algumas palavras em comum com as línguas célticas faladas na Gália, no entanto, em outras questões culturais, eles eram bem diferentes.


A região da antiga Panônia antes de ser conquistada pelos romanos. Em volta pode-se ver Estados vizinhos como Noricum, a Dalmácia, a Moesia e o Reino da Dácia. 
A respeito das tribos celtas que vagavam por estas terras e que não chegaram a se misturar com os povos nativos, ainda pouco se sabe. Porém, há relatos gregos que dizem que no século IV a.C, mercenários celtas eram empregados na Macedônia e na região do Peloponeso na Grécia. Alguns desses relatos como aponta Powell [1974] datam de 369 a.C. De fato, existem outros relatos que também apontam ataques de grupos de saqueadores de celta no norte da Macedônia e da Grécia. 

"No ano de 325 a.C, quando Alexandre Magno andava em campanha na Bulgária recebeu deputações de todos os povos que viviam perto do Danúbio Inferior, e entre estes vinha uma embaixada de Celtas, que eram referidos como do Adriático". (POWELL, 1974, p. 22). 

Sabe-se que no século III a.C, tribos celtas continuaram a atacar os macedônios e os gregos, incluindo o famoso ataque a cidade de Delfos, onde tal cidade conhecida pelo Oráculo de Apolo fora parcialmente saqueada. Nos relatos gregos, os mesmos dizem que os líderes celtas que realizaram tais ataques chamavam-se Bólgios e BrenoDepois desses episódios, algumas tribos continuaram a avançar pelos Balcãs, inclusive migrado para o norte, em direção a terras que hoje pertencem a atual Ucrânia e ao sul da Polônia. Ainda hoje existe uma região ali chamada de Galícia, em referência aos galatae ou gálatas, celtas que ali se estabeleceram brevemente entre os séculos III ou II a.C. Embora não se saiba ao certo quanto tempo essas tribos ali permaneceram.

5) Galácia

A Galácia ou Galatia em grego, fora uma antiga região localizada na parte central da Ásia Menor, limitada ao norte pela Bitínia e a Paflagônia, ao sul pela Licaônia, ao leste pelo Ponto e a Capadócia, e a oeste pela Frísia


Mapa com a localização de algumas províncias romanas, incluindo a Galácia. 
Quando os celtas começaram a atacar os gregos ao longo do séculos IV a.C e III a.C, os gregos passaram a chamá-los de galatae ou gálatas, uma alusão a palavra latina galli (gaulês), os quais os romanos usavam para referi-los, embora que os gregos do século VI a.C utilizassem a palavra keltoi. De qualquer forma, após uma série de ataques a Grécia, como fora visto anteriormente, tais tribos errantes acabaram sendo expulsas pelos gregos e migraram em direção a Ásia Menor, não se sabe ao certo os motivos para terem ido se estabelecer em tal região. Os gálatas acabaram se estabelecendo na parte central da Ásia Menor, dando origem a Galácia. 

A capital da Galácia fora estabelecida na cidade de Ancira (atual Ancara, capital da Turquia), embora que havia também uma cidade sagrada, chamada Drunemeton. Os gálatas acabaram cortando laços com seus antepassados europeus. Durante o século II a.C, os romanos incentivaram os gregos da colônia de Pérgamo na Frísia a continuar a combater os gálatas, pois sabe-se que os gregos de Pérgamo por vários anos combateram os gálatas por questões territoriais, a final, eles eram os invasores. No ano de 25 a.C, os romanos finalmente vieram a conquistar a Galácia e o restante da Ásia Menor, os assimilando aos domínios do nascente império que havia sido instituído a apenas dois anos. 

No século I d.C, quando São Paulo redigira sua famosa Epístola aos Gálatas, os mesmos já há muito tempo falavam o grego e tinham costumes e hábitos orientais e não mais europeus. Porém, no século IV, São Jerônimo conta que alguns sacerdotes gálatas ainda falavam uma antiga língua, que dizia ser a língua de seus antepassados. 


Epístola aos Gálatas em uma Bíblia do século XVI. 
Considerações finais: 

Como deu para se notar neste breve texto, os Povos Celtas se espalharam pela Europa e pela Ásia Menor entre os séculos VIII a.C e II a.C, sendo que muito do que se sabe sobre sua história e costumes provêm de historiadores gregos e romanos, embora que os relatos dos gregos e romanos, sempre considerassem os celtas do ponto de vista negativo. Não obstante, outra importante fonte de relato sobre a vida e a estrutura social dos celtas provem dos escritos irlandeses, sendo que os irlandeses são descendentes de tribos celtas que ali se fixaram e se miscigenarem com os povos nativos. 

A língua céltica fora bem difundida pela Europa Central, Grã-Bretanha e Irlanda, no entanto, hoje a maioria dos falantes de línguas que descendem do celta, se encontram nessas ilhas e na região da Bretanha na França. Os demais locais onde os celtas povoaram e habitaram, praticamente não se fala mais alguma língua descendente devido principalmente a forte romanização que tais regiões sofreram. De qualquer forma, na Irlanda até o período medieval, os irlandeses ainda preservavam costumes e organizações sociais e estatais oriundas da época em que estavam sendo colonizados. 

Os romanos se por um lado foram responsáveis por deixarem importantes fontes sobre os celtas, especialmente os gauleses, também foram responsáveis por acabar com suas culturas, impondo a sua a tais povos e outros povos da Europa. Mesmo com a romanização, algumas tribos celtas migraram para a Germânia e para o que hoje é a Polônia e Dinamarca, pois foram encontrados vestígios arqueológicos apontando assentamentos celtas nessas nações, porém os celtas que ali se estabeleceram acabaram sendo assimilados pelos povos locais.

E amarelo a máxima extensão territorial alcançada pelos Povos Celtas até o século III a.C.
NOTA: A história em quadrinhos de Asterix, narram as aventuras de uma aldeia gaulesa no ano de 50 a.C, onde seus moradores que incluem Asterix e Obelix, vivem várias aventuras contra os romanos, como também de viajarem por outros locais da Europa, inclusive indo para o Egito e até mesmo a Índia. 
NOTA 2: Existem algumas histórias de Asterix que fazem referências a outras tribos celtas: como os belgas, os helvéticos, os avernos e os bretões. 
NOTA 3: Até o século XIV, alguns estudiosos irlandeses ainda sabiam escrever em irlandês antigo, e o próprio irlandês medieval se desenvolveu a partir da versão antiga. 
NOTA 3: Na Irlanda ainda é comum se ouvir histórias populares e do folclore, que remontam a Antiguidade ao período celta. Os druidas, bruxas, fadas e duendes, são personagens recorrentes dessas histórias.
NOTA 4: Algumas cidades hoje tiveram seus nomes originados de nomes celtas, por exemplo, Londiniom (Londres), Mediolanum (Milão), Lugdunum (Lyon) Vindobona (Viena), Bragantia (Bragança). Sabe-se que alguns destes nomes foram adotados pelos romanos ou foram latinizados como o caso de Lutécia (Paris). Acredita-se que a palavra lutetio que significava "lama" em latim, fora adotada a partir de uma  palavra gaulesa para "lama", pois durante a enchente o rio cobria a vila, e quando os níveis da água baixavam, todo o local se tornava um lamaçal. 

Referências Bibliográficas: 
POWELL, T. G. E. Os Celtas. São Paulo, Editora Verbo, 1974. 
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 4, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 6, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 8, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 18, São Paulo, Nova Cultural, 1998.

Links relacionados: 
Conhecendo os Celtas

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2 comentários:

Vinícius Mauricio disse...

Adorei! Parabéns pelo texto!

Anônimo disse...

Parabéns por esta matéria. Realmente fantástica.
Gostei de você ter falado de Galiza. Sabia que no Brasil há uma quantidade consideravel de galegos? Pois é, há até uma comunidade galega em Salvador na Bahia. Foi lá que a maioria dos galegos desembarcaram ao chegar no Brasil. Na Argentina também há muitos galegos.
O ator Charlie Sheen é galego, o nome verdadeiro dele é Carlos Esteves. O pai dele a alguns anos atrás esteve em Galiza e deu uma entrevista dizendo que sentia orgulho em ser galego. O cantor Julio Iglesias também é galego. Tem uma música dele chamada Un Canto a Galícia, que é cantada em galego.
Meus avós são galegos de Lugo, eles desembarcaram em Salvador depois migraram para o sudeste, já meus pais nasceram aqui no Brasil mesmo. O meu pai e a minha mãe são parentes distantes, pois antigamente era proibido se casar com pessoas que não fossem do mesmo povo, ou que fosse de raça diferente. Infelizmente com o multiculturalismo e mundialismo forçado que existe hoje em dia as pessoas não se veêm mais com a obrigação de conservar sua própria cultura e sua própria gente, por isso alguns de nós se perderam. Mas felizmente nem todos cairam nessa armadilha politicamente correcta de diluir a herança cultural de seus ancestrais.

Ainda existiremos enquanto existir em nós a consciência racial.